terça-feira, janeiro 09, 2007


A concha
A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fechada de marés, a sonhos e a lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.

Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.

E telhadosa de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta pelo vento, as salas frias.
A minha casa... Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.

Vitorino Nemésio

4 comentários:

Ana M. disse...

E como é bom sentir o conforto da concha, quando o mundo, lá fora, está como está...

Pedro disse...

Tenho a impressão que a concha não chega. Interessa mais ser assim tipo uma gruta, ou uma mina (aurífera de preferência)...

Ana M. disse...

É tudo uma questão de tamanho...
A mim, chega-me a concha.

Pedro disse...

Chegar, chegar, que remédio senão a minha conchinha de amêijoa... Agora um tipo pode ter um bocado de letra e sonhar, né...