segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Transformações e nostalgia

Nova Iorque, 1946 de Henri Cartier-Bresson

No canto mais próximo de casa ou na Babilónia mais distante há sempre uma perspectiva melancólica, pitoresca ou nem por isso, apanhada pela objectiva de um grande mestre.

Silva Porto, homem do Porto e do mundo


O Campino, Silva Porto (1859-1893)

Silva, homem do Porto, que correu mundo, mas talvez por isso "cantou" Portugal, encantado pelo Ribatejo e por todo um país que amou sem nunca o dividir.

domingo, fevereiro 19, 2006

Johnny, you're alive


I woke up this afternoon looked into your eyes

And somethin' was as wrong as if the sun forgot to rise

I picked up a roadmap and I checked a few good places that I know

And if you're no longer givin' I believe I'll hit the road and go

I just got the feelin' that the fire was burnin' out

Cause the air was turnin' colder every time you came about

And a flame won't take a fannin' if the last reserve of love is runnin' low

So since I've gotta button up I believe I'll hit the road and go

Country road 6-40 state highway 45 life out of the interstate is very much alive

There's magic in the mountains and music in the valleys down below

And my song ain't through playin' yet so I believe I'll hit the road and go

Good morning to you sunshine good morning to you rain

The windshield whiper's rhythm keeps me singin' down the pain

Today I'm gonna miss you less if I miss you at all you'll never know you'll never know

This rambler had cut all the ties and pulled up stakes to hit the road and go

This rambler had cut all the ties and pulled up stakes to hit the road and go

Johnny Cash, 1977 (Hit the road and go)

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Agostinho da Silva


Faria hoje cem anos um homem cujo pensamento nunca morreu, mas para muitos nunca sequer existiu. Nunca viveu na douta ignorância de tantos para os quais o mundo é uma selva de seres malignos e como tal pensam e actuam a preceito. Qualquer pensamento positivo, utópico ou não, há que pôr no saco no optimismo bacoco, pois suas existências são tão negativas que os cegam. Agostinho teve a coragem de descobrir, de saber, de aprender e deu tudo o que tinha e que não tinha em prol daqueles que o rodeavam, tudo isto escondido atrás de uma máscara de simplicidade campesina. Tudo isto entre uma imensidão de factos e ideias e, acima de tudo, uma vida que constitui exemplo mesmo para aqueles que não o querem ver.

Dissertação sobre o cepticismo cobarde

As questões de fé e de espiritualidade têm vindo a intrigar o homem desde tempos imemoriais, desde que o homem é homem, e eu não sou nenhuma excepção. Apesar dos muitos "iluminados" que se dizem imunes às questões espirituais e religiosas e abanam os ombros perante o que lhes parece ser as puras evidências científicas - segundo as quais qualquer crença naquilo que eles denominam de "sobrenatural" se esvair num emaranhado obscuro de crendices e falácias -, apesar de muitas novas teorias dos diversos ramos da ciência serem apresentadas com uma imagem aparentemente desmistificadora em relação àquilo que dantes parecia pertencer ao campo dos mistérios, penso que poucos ficam imunes a um grande turbilhão de manifestações e de ideias no campo da espiritualidade, da religião e do misticismo.

Pretendem os cépticos - que no meu entender abusam do conceito desta palavra - que a ciência e as artes e outras manifestações do pensamento tidas por eles como "regulares" sejam os únicos campos do conhecimento dignos desse nome. Tudo o resto será ruído, má literatura, logros diversos de má ou de boa fé ou, sintetizando, puro lixo. Independentemente de este tipo de pensamento representar uma boa parte das elites intelectuais, não podemos ignorar a contradição inevitável em que tal pensamento incorre: se constituirmos um conceito de realidade que não envolve quaisquer mistérios estamos a criar por si só uma ideia, um conceito, uma crença. Como bons cépticos, porque não pôr em causa esta crença? Que provas científicas a demonstram inexoravelmente? Ela dá as respostas a todas as perguntas e a todas as dúvidas científicas ou não, existenciais ou não? Evidentemente que a reposta a esta última questão é não e faz cair no campo da tão odiada subjectividade e do relativismo todo o cepticismo materialista que depreza e desdenha das "muletas" espirituais dos "idiotas" dos crentes, agarrando-se firmemente e cegamente às suas próprias muletas consistentes na sua teoria do acaso, usando e abusando das probabilidades matemáticas, que por serem cegas vão com quem as guiar para onde o guia bem quiser.

O agnosticismo como o nome bem indica é ausência de gnose, ausência do conhecimento, nunca a negação pura desse conhecimento. O cepticismo cobarde, aquele que desdenha e maldiz sem apresentar nada em troca, abriga-se precisamente no agnosticismo para evitar a triste conclusão de que a sua amada ciência afinal ainda não dá resposta às questões que sempre atormentaram e ainda atormentam o Homem, seja qual for a sua classe social ou o seu nível cultural: o que somos? donde vimos? para onde vamos? o que nos acontece depois da morte? O que demonstra a posição: "eu não acredito nisso, mas não sei realmente o que se passa. Não sei se é assim ou não".

Evidentemente é um direito que assiste a cada um distanciar-se desta forma das questões metafísicas, ou espirituais. Cada um escolhe os seus assuntos de interesse, as suas áreas de estudo. Podemos sempre refugiar-nos no nosso agnosticismo, simplesmente para confessarmos a nossa ignorância. O que por si só é uma atitude sábia, pois penso ser positivo sabermos e assumirmos aquilo que não sabemos. É um tomar de consciência do nosso microcosmos, da sua pequenez e das suas limitações face a um macrocosmos que ainda tem muito para explorar. É uma tomada de posição de humildade, de lucidez e um ponto de partida para o aguçar do espírito crítico. Por isso, será sempre um contra-senso fazer desta posição uma porta para a arrogância e o sectarismo intelectual. Muitos cépticos materialistas esforçam-se em muitas circunstâncias para destruir aquilo que muitos com um trabalho honesto e diligente constroem. Para quê? Para apresentarem como alternativa o argumento do agnosticismo, muitas vezes falso, através do qual fazem a sua retirada estratégica e cobarde, pois não têm a resposta para aquilo que outros se esforçam em responder. Limitam-se ao trabalho de negação, pois está sempre na moda a negação e desmistificação de algo, pois dá sempre um toque de classe e de irreverência. Por outro lado, muitos, estes mais honestos mas pouco inteligentes, rezam fervorosamente para que Deus não exista...
Posted by Picasa

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

O Salto de pardal

O salto de pardal é, entre o povo, aquilo que se denomina como o avanço lento da luz após o Solstício de Inverno, no qual se vive o dia mais pequeno do ano. Ao contrário do poder dos deuses, os quais têm o supremo poder, bastando-lhes proferirem as palavras mágicas de conhecimento bíblico "Fiat Lux" (faça-se luz) os humanos estão cingidos a que essa luz se faça (ou se vá fazendo) através apenas de um salto de pardal, até atingirem os dias mais radiosos de Primavera e de Verão. O pardal, pequena ave mas de grande alcance de horizonte atingido com pequenos passos, ou pequenos voos, atinge o seu destino com pequenos trajectos, quando não é interceptado pelo fogo mortal do chumbo disparado pelas armas do homem. Tomemos seu exemplo e esperemos que a luz se atravesse no nosso caminho na medida de nossos pequenos passos. Aceitemos sua lição de paciência até sermos nós a voar livres como pássaros, como pardais por entre um sol radioso. É o nosso destino, colectivo e individual, prosseguir nosso caminho com os passos frágeis, mas mesmo assim firmes e decisivos deste ave carregada de simbolismo.


Olá! Mais um blog feito de letras e tretas e, se possível, algumas imagens. Não digo que este venha a ser inovador, pois isso é um pretenciosismo absurdo. É mais um. Feito de palavras soltas, gastas, solitárias, ilustradas... sei lá!

É mais uma ilusão de que vou conseguir manter algo regular. Numa vida regular, conseguir a regularidade nestas coisas é quase impossível. É a normalidade que desmotiva a manter rotinas e hábitos sem que surja a desmotivação que torna regular as desistências e faz vencer a inércia. Paradoxal? Como tudo nesta vidinha. O paradoxo existe mais frequentemente nas vidas vulgares.

Para já vivo uma madrugada de segunda-feira, que é das mais ingratas, pois há um fim-de-semana que teima em não se despedir.